terça-feira, 13 de julho de 2010

EPÍLOGO

A Copa do Mundo chegou ao fim. Foram 30 dias de jogos acirrados, disputas renhidas, imagens belas e inéditas, cobertura jornalística sem precedentes, inovações tecnológicas e muita discussão. O mundo parou para ver os astros do esporte mais popular do planeta desfilarem pelos gramados sul-africanos. E novamente pudemos constatar que, se o futebol é apenas um jogo, a Copa do Mundo é muito mais do que isso. Fora os aspectos técnicos e táticos, analisados por especialistas e pseudos, como diria o finado Paulo Francis, em sites, blogs, jornais, revistas e demais mídias, num esbanjamento de conhecimento teórico e de achismos às vezes estapafúrdios, pudemos notar o quanto o evento retrata a realidade dos países disputantes. Se prestarmos atenção, o mundo girou, por alguns instantes, em torno da competição. Na reunião dos países mais ricos do mundo, os jogos mereceram minutos de atenção dos chefes de estado. Líderes mundiais foram à África do Sul prestigiar suas equipes. O mundo foi uma jabulani, pelo menos nesses dias.

APENAS UM JOGO

Para quem acha que o futebol é a coisa mais importante das menos importantes, numa afirmação que roda por aí com um punhado de pais, a Copa de 2010 serviu para mostrar uma nova ordem mundial. Potências tradicionais como Itália e França demonstraram falta de preparo e indigência técnica. Saíram na primeira fase apontando desgastes e necessidade urgência de renovação, inclusive da mentalidade. Argentina e Brasil também demonstraram estar muito aquém das possibilidades e das expectativas criadas em torno de suas seleções. Os hermanos apostaram na divindade de Maradona e na qualidade de Messi, um dos poucos craques em atividade. Mas futebol é um jogo coletivo, em que é necessário equilíbrio entre os setores. O aproveitamento das peças individuais carece de organização tática, de conhecimento do comandante, do preparo físico e psicológico dos atletas. Isso vale também para o Brasil. Bons jogadores e autosuficiência não garantem títulos. Soberba e empáfia não ganham jogo. E falta de experiência pesa na hora de liderar um grupo. A Inglaterra entra no rol das decepções, pelos mesmos motivos citados acima. Ao contrário dessas, as seleções da Espanha, da Alemanha e da Holanda apresentaram futebol mais consistente, bem treinado e com mais recursos. Como sempre acontece em torneios como a Copa do Mundo, nos surpreendemos com equipes que julgamos pelo desempenho nos anos anteriores e baseado em nosso suposto conhecimento da realidade dos times. O Uruguai calou a boca de todos que apostaram na curta permanência no torneio, com um futebol dentro dos padrões uruguaios, e que havíamos esquecido. Enfim, foi a Copa do toque de bola, da paciência, da eficiência, dos erros de arbitragem, da quebra de paradigmas.


MUITO MAIS QUE UM JOGO

Enquanto nos gramados os atletas se enfrentavam na busca dos pontos e do caneco, fora deles houve uma grande festa. A África do Sul foi apresentada de maneira mais ampla e profunda ao mundo. O antigo país do apartheid mostrou sua face mais alegre, festiva, animada, orgulhosa. Problemas sociais convivendo com avanços e uma estrutura que surpreendeu à maioria. Torcedores de todos os países fizeram do torneio uma ocasiao de congraçamento e de alegria. Milhões de dólares foram gastos, boa parte deles em estádios que se tornarão obsoletos, fora o que escorreu por bolsos diversos. Mas a economia girou, a televisão atingiu um número de expectadores equivalente à população da Terra, produtos infindáveis foram comercializados com a marca do mundial. As seleções demonstraram ser as pátrias de chuteiras, parafraseando Nélson Rodrigues, e os jogadores se tornaram embaixadores do estilo de vida de cada nação. A emoção dos artistas da bola deu o tom exato da importância que é a Copa do Mundo, onde cada lance, cada gol, cada uniforme, cada cor, cada comemoração, representa algo que supera, e muito, o simples jogo.

REFLEXOS

ESPANHA

A conquista espanhola fez justiça à equipe que mais privilegiou o que gostamos de ver e chamar de futebol. Toque de bola refinado, organização tática, união entre os jogadores, consciência no controle de jogo. Falta-lhes mais contundência, porém isso não diminui o mérito, apenas mostra que ninguém atinge a perfeição. Em muitos aspectos lembra a seleção da França dos anos 80, comandada na época pelo genialk Michel Platini, ou a Colômbia de Valderrama. O país hoje é um dos pilares da economia européia. Suas empresas estão em toda parte, grandes corporações comandam setores estratégicos em vários países, e no esporte vão atingindo o clímax em várias modalidades, num misto de técnica e raça que dão o caminho para o sucesso. Podemos afirmar que a Espanha, hoje, é uma grande potência econômica e esportiva, e caminha a passos largos para atingir o mesmo patamar na política.


HOLANDA

A Holanda fez o que dela se esperava antes da Copa. Uma nação alegre, liberal, com um estilo de vida invejado por muitos e que ainda hoje causa estranheza para a maioria. Em campo também são assim, e se conseguiram o terceiro vice-campeonato de sua história, foi apenas porque tiveram o azar de enfrentar, tal qual em 1974, uma equipe tão boa ou até melhor do que ela.


ALEMANHA

A Alemanha, com seu futebol rápido, envolvente e objetivo, capitaneado por jovens revelações, é outra que justificou seu eterno favoritismo, acrescido de ingredientes que julgávamos extintos no país, como a técnica, a raça e uma certa dose de irresponsabilidade. Os alemães mostraram em campo a alegria de uma nação que a cada dia se rejuvenesce, disposta a esquecer o passado nebuloso e reafirmar a característica de um país poderoso, rico, que ocupa a linha de frente da geopolítica internacional.


URUGUAI

Grande surpresa da Copa, o Uruguai provou que tradição e camisa podem até não ganhar título, mas dão a quem atua sob seu escudo a confiança necessária para superar obstáculos. Um time técnico, com poucos recursos, uma dedicação e uma raça incríveis, bem de acordo com sua história vitoriosa. A Celeste Olímpica voltou ao cenário mundial em grande estilo e consagrou Diego Forlán como craque da Copa. O futebol uruguaio talvez não aproveite esse momento, já que o país é pequeno e não tem tanta oferta de jogadores acima da média como antigamente. Mas experimentam um período de crescimento econômico, com bons índices sociais, e a campanha na África do Sul pode catalizar a onda de otimismo e empolgação que se segue ao resultado.

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