terça-feira, 29 de junho de 2010

OITAVAS-DE-FINAL

Oito jogos colocaram frente a frente as seleções classificadas após a primeira fase do mundial. Dois clássicos de grande rivalidade e alguns confrontos interessantes e imprevisíveis.

URUGUAI 2 X 1 CORÉIA DO SUL

Confronto entre a tradição e garra uruguaias com a tradição recente e correria dos coreanos. Foi um jogo muito legal de se acompanhar. O Uruguai tem um time forte, agressivo e com uma dedicação impressionante. Já a Coréia do Sul alia a velocidade da escola asiática com o pragmatismo europeu. Durante boa parte do jogo manteve a maior posse de bola e a maioria das ações ofensivas, só que careciam de mais qualidade. Esse não é o problema do Uruguai, que é uma equipe segura, autoconfiante e que conta com alguns atletas acima da média. O placar de 2 a 1 para os "charruas" foi justo e merecido.

ESTADOS UNIDOS 1 X 2 GANA

Jogo bom, movimentado, confrontando duas seleções absolutamente distintas, mas com histórias semelhantes na competição. Ambas se garantiram na última rodada entre as classificadas e correram por fora em seus respectivos grupos. Os Estados Unidos apresentaram um futebol bacana, de muita marcação e aplicação tática, aliadas a uma coragem e uma determinação incomuns. Sempre saíram em desvantagem no placar e correram atrás da reversão. Desta vez não conseguiram. Gana foi a única representante africana na segunda fase, e fez bonito neste jogo. Foram pra cima, suportaram o maior volume de jogo dos americanos, que empataram após os ganeses abrirem o placar no início da peleja, e fizeram um gol na prorrogação, num contra-ataque fulminante. Classificar para as quartas-de-final já iguala a melhor colocação de um time africano em Copas, como ocorreu com Camarões e Senegal. Pegam o Uruguai e jogam pelo continente.

ALEMANHA 4 X 1 INGLATERRA

Grande clássico europeu e mundial, Alemães e ingleses travaram árduas e impressionantes batalhas ao longo de suas histórias. A rivalidade entre Normandos oriundos da Germânia e os Saxões, que esteve na gênese da Inglaterra, passou para os campos político e militar nos séculos seguintes. No futebol a rivalidade ficou mais acirrada na decisão da Copa de 1966, quando os ingleses levaram melhor, com direito a um gol ainda hoje contestado. Pois a ironia do destino quis que as duas grandes potências voltassem a se enfrentar nesta Copa, e os germânicos levaram a melhor. A goleada acachapante não só premiou a melhor equipe, mas revolveu a polêmica de 66, já que houve um tento não assinalado pelo árbitro em favor dos britânicos em condições incrivelmente semelhantes. A Alemanha assegura sua vaga e seu lugar entre os maiores favoritos para a conquista do torneio, enquanto os ingleses voltam para casa cheios de dúvidas.

ARGENTINA 3 X 1 MÉXICO

Um jogo entre o mais forte e o mais fraco. A vitória argentina era esperada e não precisava da ajudinha da arbitragem, que validou um gol de Tevez em flagrante impedimento. Mas o time do marrento Maradona está brilhando, com um futebol bonito e objetivo. Os argentinos são exuberantes, arrogantes, atrevidos, briguentos quando precisam. Já os mexicanos chegaram até onde podiam. Falta qualidade e competitividade. O time não é ruim, nem mal treinado, apenas esbarrou numa equipe mais bem provida de talento e mais preparada para uma competição como essa. Volta aquele velho problema da falta de autoconfiança e força.

HOLANDA 2 X 1 ESLOVÁQUIA

A Holanda ainda não mostrou nesta copa a fama que carrega, e nem justifica a herança da alcunha dada para a equipe de 74, Laranja Mecânica. Tem um futebol solto, ofensivo, mas ainda pouco inspirado. Mas eles são movidos por uma autoridade e uma autoconfiança que geralmente só encontramos nas equipes campeãs. Pocas seleções representam tão bem sua nação como a Holanda, em tudo. Da abrangência genética ao estilo e à postura dos atletas, dentro e fora do campo. Os eslovacos são duros, aplicados, ofereceram perigo, mas nada que ameaçasse a vaga holandesa para as quartas. E lá vamos novamente ver um duelo entre Brasil e Holanda.

BRASIL 3 X 0 CHILE

O Brasil não tomou conhecimento do Chile. Atropelou a equipe do louco Bielsa com um futebol seguro, forte, rápido e de habilidade. A seleção brasileira é a única que entra em campo sem demonstrar qualquer sinal de apreensão ou de temor, mesmo respeito, ao adversário. Tem sempre um ar de quem está certo da vitória. O Chile mostrou porque ainda não pode ser encarado como grande força do futebol. Se tem um jogo bacana, ofensivo, despreocupado, perde justamente na falta de seriedade e de competitividade. Mas faz alguns dos jogos mais legais da atualidade.

PARAGUAI 0 X 0 JAPÃO (5 X 3 NOS PÊNALTIS)

Jogo fraco tecnicamente, mas que exigiu muito ada parte física dos atletas. O Japão não repetiu as boas atuações da primeira fase e ainda esbarraram na segura e consistente defesa paraguaia. Os sul-americanos não possuem ataque produtivo, mesmo com bons jogadores, e compensam tudo com uma qualidade defensiva impressionante. Primeira decisão por pênaltis da Copa, e premiou a competência dos guaranis. O Japão fez belo papel na competição, mostrou futebol técnico e habilidoso, e já deu provas de que em breve será adversário duríssimo para quem quer que seja.

PORTUGAL 0 X 1 ESPANHA

Na história portuguesa os vizinhos ibéricos sempre foram os primos ricos e poderosos. O pequeno país peninsular que nos colonizou já foi até mesmo governado pelos espanhóis, ainda lá nos primórdios. Mas segue, consciente ou inconscientemente, meio que submisso à Espanha. Enquanto esses já se inseriram entre as grandes economias globais e adquirem importância política cada vez maior, nossos patrícios continuam sua lenta e, às vezes, atrasada, corrida rumo ao primeiro mundo. No futebol as coisas funcionam de maneira similar. A Fúria é uma das grandes seleções da atualidade, com uma equipe habilidosa e extremamente técnica, considerada uma das favoritas para a conquista do título. Portugal, por sua vez, busca uma forma de jogar competitiva, que compense a saída de Luís Felipe Scolari. Com o treinador brasileiro os lusos chegaram às semifinais da última Copa. Só que o time agora não conta com a boa safra de alguns anos atrás, e tem em Cristiano Ronaldo um craque isolado, sem conseguir mostrar em campo tudo o que rendeu no Manchester United e hoje rende no Real Madri. O equilíbrio visto no primeiro tempo se esvaiu na segunda etapa. A Espanha passou a dominar a partida e fez aquele tradicional jogo de paciência até o gol salvador do artilheiro Villa. A história segue seu rumo, com os portugueses subjugados por seus vizinhos.

GRUPO H

Como imaginava, foi um dos mais disputados e imprevisíveis grupos da Copa. Por pouco a Espanha não cai fora, vítima da precisão suíça. E os chilenos de Bielsa, atrevidos e malucos, como seu treinador.

ESPANHA

Com um futebol bonito, de muito toque de bola e movimentação constante, chegaram à África com imensa expectativa e grande favoritismo. Mas caíram diante dos suíços logo na estréia, obrigando a mudar os planos em plena disputa. Venceram Honduras sem tanta força e penaram para suplantar os chilenos. Mas tem um time bom de ver jogar, com alguns jogadores de alto nível. A Espanha hoje é uma das maiores economias da Europa, com uma sociedade avançada cultural e socialmente. Os jogadores espanhóis são inteligentes e finalmente mostraram unidade e respeito à bandeira espanhola.

CHILE

O Chile há muito tempo vem mostrando um futebol vistoso, atrevido e cheio de confiança. Por pouco não terminam o grupo na liderança e deixaram a impressão de que podem ir longe ainda neste mundial. Só que vão encarar o Brasil nas oitavas e aí podem abreviar sua participação na Copa. O País recentemente passou por um trauma enorme, devido a um terremoto que afetou boa parte da população. Mas passam por um momento histórico importante, com a economia crescendo e o nível de vida dos cidadãos também. Em campo os jogadores demonstram orgulho e alegria, além da motivação dada pelo seu hiperativo treinador.

SUÍÇA

Uma vitória sobre a Espanha logo na primeira rodada provocou uma reviravolta no grupo. Como sempre amparados numa defesa intransponível e apoiados por alguns destaques individuais, os helvéticos deram à Copa a primeira zebra e por pouco não mandavam pra casa os favoritos espanhóis. Não conseguiram marcar um gol sequer em Honduras e acabaram indo embora frustrados. Com a tranqulidade de quem vive numa ilha de exceção em uma Europa cada vez mais afundada em crise, não mostraram temor e nem nervosismo. Mas o excesso de pragmatismo e a pouca vocação ofensiva custaram caro e por isso ficaram no meio do caminho.

HONDURAS

Honduras não foi à Copa pensando em se classificar, mas eu acreditava que seriam adversários mais duros. Mostraram um futebol pobre, ingênuo e pouco competitivo. Pareciam órfãos de alguém que os comandasse melhor e incutisse a competitividade que se exige numa Copa do Mundo. Quando empataram com os Suíços perceberam que poderiam até engrossar diante dos demais adversários, mas aí já era tarde.

GRUPO G

A chave do Brasil-sil-sil, tudo aconteceu mais ou menos como se previa. Decepcionantes os time de Portugal e Costa do Marfim. Falta muito ainda para estarem entre os grandes.

BRASIL

Falar o que dos eternos favoritos. Muitos criticam o treinador brasileiro pela maneira com que coloca o time para jogar e pela não convocação de atletas mais habilidosos. Mas o país todo tem passado por um processo de amadurecimento, que inclui a aquisição de mais espaço internacional, baseado na austeridade e na seriedade no trato da economia e de assuntos geopolíticos. Aos poucos vamos deixando para trás a imagem de república de bananas e de país subdesenvolvido, e mostramos uma faceta mais séria e comprometida com os valores contemporâneos. Naturalmente o futebol da seleção reflete essas mudanças, ainda que, nesse caso, não seja isso algo tão positivo. Mesmo assim, é algo inexorável, que vem acontecendo naturalmente. Nos tornamos mais pragmáticos, mais racionais e mais seguros. O técnico apanha de tudo quanto é lado, mas não abandona a pose de guerreiro, sempre de cara amarrada para todos, mas com uma determinação e tenacidade que sempre vimos e admiramos em nossos vizinhos continentais. Tem tudo para chegar mais uma vez à finalíssima.

PORTUGAL

Os patrícios mostraram um futebol burocrático, sem imaginação e cheio de marra. Garantiram vaga na próxima fase por que tem jogadores de qualidade e o time não é ruim. Mas não se encaixaram e voltaram a mostrar a velha insegurança e falta de confiança, coisa que não havia quando foram comandados por Felipão. Portugal parece que não consegue se ver entre os grandes, e isso não apenas no futebol. Na política européia agem como figurantes e carecem de mais poder e autoconfiança.

COSTA DO MARFIM

Com vários jogadores de boa quaalidade, ficaram reféns do esquema fechado e medroso do seu treinador, o experiente Sven Goran Erickson. Os páises africanos ainda não conseguiram aliar a força e a habilidade naturais a uma forma de jogar equilibrada e organizada. A Costa do Marfim tem talvez o melhor elenco do continente, porém esbarraram nas próprias limitações e saíram prematuramente da competição.

CORÉIA DO NORTE

Não se esperava muito dos misteriosos norte-coreanos. Mostraram um futebol inocente e inexperiente. Correria apenas não garante nada, e saíram derrotados nas três partidas. Bem que endurecweram contra o Brasil, mas levaram uma sonora goleada dos portugueses.

GRUPO F

Quando falei a respeito deste grupo, disse que era dos menos atraentes. Estava certíssimo. Jogos ruins, ou feios, e uma surpresa nem tão grande assim, a desclassificação da Itália.

ITÁLIA

A bela campanha nas eliminatórias e o título ganho na última Copa faziam da Itália uma das favoritas à conquista do caneco. Mas o futebol apresentado pelos comandados de Marcelo Lippi foi de dar vergonha. Um time sem imaginação, sem preparo e sem talento. Não que os jogadores fossem ruins, mas é daqueles casos em que tudo parece estar no lugar errado. Na verdade a seleção italiana é um retrato fiel do país da bota. Tradicionalmente conturbado politicamente, há anos sob a batuta de um primeiro ministro esquisito, milionário, excêntrico e apegado a escândalos, com um campeonato de futebol decadente e recheado de histórias de manipulação de resultados e outras falcatruas, e um processo de renovação lento, não espanta a equipe voltar mais cedo pra casa. Pode ser o início de uma nova era num dos principais centro de futebol do planeta.

PARAGUAI

Essa era uma vaga quase garantida. O Paraguai é uma equipe consistente e segura, conta com bons jogadores e se credenciou após boa campanha nas eliminatórias. Passar de fase era barbada. Faz parte do processo de aquisição de uma confiança perdida ao longo do tempo. O país luta para se livrar da incômoda fama de depósito de muambas. Elegeu um presidente ninfomaníaco que busca mais espaço no cenário internacional. Os jogadores paraguaios estão espalhados por alguns dos principais campeonatos do mundo e atuam com uma garra e uma vontade impressionantes.

ESLOVÁQUIA

Diferentemente dos vizinhos tchecos, os eslovacos não apresentaram um futebol vistoso e de habilidade. Mas organização, força e muita vontade foram suficientes para fazê-los superar a indecisa e ultrapassada Itália. No duelo entre as duas seleções, venceram com autoridade e se garantiram em segundo na chave. O país é estável, política e economicamente, e os jogadores atuam com calma e confiança. Faltam valores individuais que os coloquem em situação melhor do que a de meros coadjuvantes.

NOVA ZELÂNDIA

Só de estarem na Copa já era uma vitória e tanto. Não almejavam nada além de disputar mais uma vez a competição. Mas não imaginavam acabar em terceiro no grupo, à frente da poderosa Itália, com direito a um empate com os atuais campeões mundiais. Uma façanha e tanto para um time amador e que só foi à África a passeio.

sábado, 26 de junho de 2010

GRUPO E

Grupo bacana, bons jogos, quatro equipes velozes, fortes e com futebol bacana de ver.

HOLANDA

Não fez nada além do que se esperava. Garantiu o primeiro lugar do grupo com três vitórias e um futebol de acordo com sua tradição. Os holandeses tem uma conjugação rara de velocidade, habilidade, técnica e força. Tivessem mais jogadores talentosos como Robben, tranquilamente seria a seleção favorita ao título. Mesmo contando com atletas oriundos de colônias fora da Europa, não apresentam problemas que implodiram outras seleções, como a França, por exemplo. Como já disse neste blog, um país liberal, progressista, alegre, de mentalidade jovem, resulta numa seleção com as mesmas características. Pega a Eslováquia na próxima fase e tem tudo para seguir adiante.

JAPÃO

Se passar de fase era a pretensão inicial dos japoneses, após as boas apresentações no grupo E já até sonham em ir mais além na Copa. O Japão aos poucos vai se soltando e mostrando o quanto assimilaram bem o estilo de jogo do maior contingente estrangeiro em sua liga de futebol, o brasileiro. Futebol rápido, mas consistente, seguro, organizado, com alguns jogadores mostrando uma habilidade incomum. Tão apegado às tradições, o Japão foi o país que mais recebeu influência externa, ocidental, depois da Segunda Guerra. O reerguimento da nação, que hoje é uma das maiores economias do planeta em muito se deve aos estrangeiros que ali investiram. A Liga de Futebol profissional, a J-League, abriu as portas para treinadores e jogadores de vários cantos do mundo, sobretudo sul-americanos. E isso acabou influenciando a forma de atuar dos nipônicos. Quando Zico era técnico da seleção nacional, disse que se os japoneses conseguissem adquirir confiança e perder o medo, seriam difíceis de suplantar. Pelo visto isso está ocorrendo e já não podem mais ser encarados como presas fáceis.

DINAMARCA

A boa campanha nas eliminatórias deixou a impressão de que os dinamarqueses fariam boa campanha na Copa. Comandados por Morten Olsen, integrante da "Dinamáquina" dos anos 80, chegaram com moral à disputa na África. Mas o futebol apresentado pelos 'vikings' não chegou nem perto da fama que os precedia. Velocidade eles tiveram, mas o jogo da seleção esbarrou na má performance dos principais jogadores. Fizeram garande partida diante de Camarões, num dos melhores jogos da competição, porém esbarraram num Japão absolutamente impecável na decisão da segunda vaga do grupo. Voltaram mais cedo e agora devem passar por uma reformulação que devolva o estilo perdido nesta Copa.

CAMARÕES

A deficiência tática comum aos africanos ficou evidente na campanha camaronesa. Com alguns bons jogadores, não mostraram padrão de jogo e nem consistência nas partidas disputadas. Com muita força e velocidade, bem que tentaram encarar holandeses e dinamarqueses, mas não tiveram competência para resistir. Saíram com três derrotas que evidenciaram a fragilidade do esquema e da própria equipe.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

GRUPO D

Disputado e difícil, como se previa, o grupo C mostrou o bom futebol da Alemanha e a classificação por um fio de Gana, única seleção africana a passar de fase.

ALEMANHA

O time alemão é apontado como candidato ao título desde sempre, por todo o retrospecto em Copas. Mas o futebol surpreendeu. Recheado de jovens valores campeões europeus nas competições de base, fugiu do padrão germânico baseado na força e na superação. Toque de bola, criatividade, coisas que há muito não víamos no selecionado, estiveram presentes. Reflexo de uma nação que se renova. Com um dos maiores percentuais de jovens entre a população dos países mais importantes da Europa, economia poderosa, alto índice de qualidade de vida, poder político e refúgio dos mais procurados por imigrantes da Ásia e da Europa, a Alemanha reinventa seu futebol. O time tem descendentes ou jogadores naturalizados de várias proced~encias, como poloneses, turcos, brasileiros, numa mistura impensável e improvável há alguns anos. Garantiu a vaga numa vitória simples sobre Gana, mas deixaram a sensação de que vão caminhar muito na Copa. O problema é que pegam a Inglaterra nas oitavas-de-final. Aí entram outros componentes, muito além do futebol.

GANA

Seleção africana menos badalada do que Camarões, Nigéria ou Costa do Marfim, Gana foi, no entanto, a única do continente a se garantir nas oitavas-de final da Copa. E num grupo difícil como este. A campanha não foi nada animadora, mesmo assim se deram bem, graças a vitória sobre os sérvios e o empate com a Austrália, além de perderem somente de 1 a 0 para a Alemanha. O time é jovem, inexperiente, mesmo que conte com atletas que atuam na Europa. Pelo entusiasmo e apoio da torcida podem superar os Estados Unidos e conseguir uma vaga entre os oito melhores, o que já seria uma façanha.

SÉRVIA

Mais uma decepção. Os sérvios não justificaram o temor dos adversários, exceto na partida contra os alemães, quando venceram. Futebol pragmático, conservador, limitado. Outra seleção que reflete o país. A Sérvia ainda não se abriu para a Europa, não se renovou, busca se adaptar à independência e autonomia. Mas mantém a pose. A desclassificação pode ser boa para abrir a cabeça dos dirigentes e para forçar a renovação do time.


AUSTRÁLIA


Os australianos podem ir para casa satisfeitos. Fizeram campanha digna, dentro das possibilidades, e dificultaram a vida de Gana e Sérvia. O futebol apresentado é o de sempre, mas aos poucos vão aprendendo a lidar com as particularidades de uma Copa do Mundo. Ficaram em terceiro na chave. Não demonstraram em campo maiores pretensões. Coisas de um país rico, bem resolvido, distante das convulsões sociais e políticas do resto do mundo.

GRUPO C

O grupo C foi um dos mais imprevisíveis. Jogos disputados, alguns feios, outros emocionantes, mostrou quatro equipes de estilos distintos e que disputaram as duas vagas até a rodada final.

INGLATERRA

Outra seleção decepcionante nesta Copa até aqui. A Inglaterra custou a se classificar, mostrando um futebol burocrático e sem criatividade, ao contrário do que se esperava, tal a qualidade de vários jogadores. O English Team do italiano Fábio Capello mostrou exatamente o pragmatismo típico de italianos e britânicos. O fato de terem a liga de futebol mais cara e disputada da Europa parece que afetou os atletas, já que demoraram a perceber que estavam em uma competição diferente e absolutamente singular como a Copa do Mundo. Dava para visualizar a velha autosuficiência inglesa, tão prejudicial ao longo da história, no sempblante dos jogadores. Mas passaram para a segunda fase e terão um teste de fogo, justamente contra os alemães, grandes rivais de outras batalhas, dentro e fora dos gramados.

ESTADOS UNIDOS

Quando falei a respeito dos Estados Unidos, neste blog, citei a capacidade de superação e o poder de reação dos ianques, em tudo quanto é esporte. Mesmo não tendo uma equipe brilhante e não obtendo dos próprios cidadãos americanos o respaldo necessário, já que o futebol naquele país está longe da preferência do público, o time é aplicadíssimo e dotado de uma incrível capacidade de luta. Felizmente não há espaço na equipe para a arrogãncia e a falta de respeito que são vistas em outras modalidades esportivas dominadas por eles. Com grande preparo físico e psicológico, aliados à natural consciência tática, ofereceram alguns dos melhores momentos da chave, com reações heróicas diante da Inglaterra (com a colaboração do goleiro adversário, é bom que se diga) e da Eslovênia, e uma vitória emocionante e vibrante sobre a Argélia, numa das melhores partidas do mundial. A presença de Bill Clinton na platéia desta peleja mostra o quanto a turma do Obama tem feito para representar, mesmo que como coadjuvante, o país mais poderoso do mundo.

ESLOVÊNIA

A Eslovênia representou bem o futebol da extinta Iugoslávia. Com um time inexperiente e repleto de jogadores inocentes, ainda que alguns dotados de boa técnica e habilidade, não teve a força necessária para superar os adversários. Mas saiu de cabeça erguida, vencendo os argelinos, empatando com os norte-americanos e perdendo pelo placar mínimo para os favoritos ingleses. E viram a vaga nas oitavas fugir com o gol de Donovan contra a Argélia, nos acréscimos. Para um país novo, em sua segunda competição seguida, foi uma boa experiência.

ARGÉLIA

Eu confesso que esperava mais da Argélia na Copa. Tradicionalmente uma equipe rápida e forte, não provou nesta Copa o destaque que vinha tendo antes do torneio começar. O país colonizado pelos franceses parece que se inspirou nos antigos colonizadores e saiu mais cedo do mundial. O time tem a velocidade tradicional, mas pecou nos demais quesitos. Nenhum jogador se destacou e faltou personalidade. Parecia que não acreditavam em si mesmos.

GRUPO B

O grupo que eu considerava imprevisível confirmou a expectativa. Resultados surpreendentes e campanha irretocável da Argentina.

ARGENTINA

A dúvida se o time de Maradona teria o conjunto necessário para os vários bons jogadores que dispunha se dissipou logo na estréia diante da Nigéria. Com um meio de campo envolvente, em que se destacam Messi e Verón, fazendo jus à tradição deles, cravaram a primeira posição com três vitórias e um estilo de jogo agressivo e técnico ao mesmo tempo. Maradona resgatou a moral e a alegria do país, já que sua imagem divina perante os compatriotas funciona como catalisador e disseminador daquela autoconfiança comumente confundida com arrogância. Se mantiverem a humildade vista até então, passam pelo México. Se deixarem a soberba e o menosprezo tomarem conta, caem diante do adversário.

CORÉIA DO SUL

Velocidade, experiência e boa dose de atrevimento. Com esses ingredientes os coreanos carimbaram o passaporte para a fase seguinte e encaram os uruguaios. O time é fraco, tanto no aspecto físico quanto no técnico, mas reflete o papel desempenhado pelos coreanos no cenário internacional. Economia pujante, povo valente, empreendedor, com grandes empresas e indústrias. São atrevidos e não demonstram medo. Não creio que afinem diante do Uruguai, mas vão precisar de muito mais para superar os sul-americanos.

NIGÉRIA

Decepção é a palavra para designar a campanha da Nigéria. Considerado um dos mais fortes times africanos, com jogadores conhecidos, não conseguiu mostrar em campo o cartaz que carrega. Endureceram contra os argentinos, poderiam até mesmo empatar, mas perderam para os gregos uma partida que não podiam. Não havia unidade nem esquema de jogo organizado. Jogadores sem inspiração e aparentemente sem confiança. Talvez o medo de represálias e da pressão governamental tenham afetado o rendimento dos nigerianos.

GRÉCIA

Mesmo desclassificados os gregos entraram para a história. Pela primeira vez o país venceu uma partida de Copa do Mundo e se apresentou com dignidade perante adversários de mais qualidade e tradição. A Grécia atravessa uma crise econômica e institucional sem precedentes, passa por um dos momentos mais difíceis da sua existência e mesmo assim os jogadores demonstraram confiança, raça e dedicação. O futebol é o de sempre, muita força e marcação, e até se arriscaram em jogadas individuais e de velocidade, como na vitória sobre a Nigéria.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

GRUPO A

Cheguei a dizer que este era um dos mais difíceis grupos da Copa. Nem tanto pelo alto nível dos componentes, mas pelo equilíbrio de forças. Não creio que houve grande surpresa. Vejamos:

FRANCA

A classificação suada e irregular da França já prenunciavam o que viria a acontecer. A seleção gaulesa enfrenta uma crise há muito tempo. Jogadores não se entendem, o treinador não tem comando, o time não tem conjunto e a pressão era enorme. Muitos atletas de origens e característica tão diferentes dificilmente formam um grupo coeso se não houver organização e comando. A França é um país cada vez mais heterogêneo. A grande leva de imigrantes e refugiados tem gerado problemas internos gravíssimos e distúrbios sociais violentos. O selecionado francês retrata essa diversidade e mostra o quanto uma equipe nacional é reflexo do país. Foi embora mais cedo que gostaria, e vai certamente propiciar mudanças profundas e radicais.

ÁFRICA DO SUL

O objetivo maior dos anfitriões era passar para a segunda fase. O time foi valente, voluntarioso e fez o possível para conseguir o objetivo. Mas nem o barulho intermitente das vuvuzelas foi suficiente para se chegar a este fim. A alegria dos sul-africanos contrastou com a pouca qualidade técnica e com a falta de experiência da equipe dirigida pelo supervalorizado Carlos Alberto Parreira. Embora tenha sido a primeira seleção de um país sede a cair na primeira etapa da competição, fez o que pode e ainda ganhou da França, o que já é um belo retrospecto.

URUGUAI

Quem acompanhou o Uruguai nas eliminatórias e quem tem uma visão mais abrangente não se surpreendeu tanto com a campanha dos charruas. O time não é nenhuma beleza, tem poucos jogadores de alto nível, mas carrega consigo a tradição e a mística celeste, ainda que isso não seja garantia de nada. A organização imposta pelo treinador e a boa fase de alguns jogadores fizeram do Uruguai o líder e maior força deste grupo. Vai pegar a traiçoeira Coreía do Sul e já vislumbra a vaga nas quartas-de-final da competição. O momento do time retrata a atual situação do país, que tenta se reerguer economicamente depois de anos atolado em crises. O país, que já foi chamado de Suíça da América, atravessa período de crescimento, o que ocasionou a volta do patriotismo e confiança dos seus cidadãos. É o que estamos vendo nos gramados sul-africanos.

MÉXICO

Outro que não chega a ser surpresa na próxima fase é o México. Há muito tempo a equipe vem pleiteando vaga entre os grandes do futebol mundial, mas sempre esbarrou na própria limitação e na crônica falta de confiança. Como uma das economias emergentes e força política da região, mostra em campo mais domínio dos nervos e segurança na hora de encarar os adversários. Não sei se é suficiente para suplantar o próximo rival, nada menos que a Argentina. Mas não deve ser subestimado.

BALANÇO DA PRIMEIRA FASE

Quando criei o blog o principal objetivo era, além de matar a curiosidade de muita gente a respeito da origem dos nomes dos países, também relacionar a forma de jogar e a característica dos atletas com a história das nações, o quanto isso influencia no jogo e na atitude dos jogadores. Acho que está virando uma viagem quase alucinógena a maneira como alguns analistas, jornalistas ou não, fazem das equipes. É um tal de 4-3-2-1 pra lá, 3-5-2 pra cá, num festival de números que, com toda certeza, nem sequer passam pela cabeça de treinadores e jogadores. Resumir um jogo de futebol, em especial numa Copa do Mundo, com todas as suas nuances e complexidades, a uma prancheta é uma tremenda presunção. Mas como todos nós, seres humanos, carregamos pelo menos uma dose de pretensão, vou aqui tentar analisar o desempenho das seleções nesta fase inicial da Copa. Sempre tendo como ângulo de visão o lado historico, comportamental e genético da coisa.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O MUNDO DA COPA

Época de Copa é um barato. Cheia de especialistas, conhecedores, torcedores e gente que sabe, ou acha que sabe, de tudo um pouco sobre cada um dos participantes da maior competição de futebol mundial. Tentando achar um foco ainda pouco explorado, ou mesmo inexplorado, resolvi criar este blog. Não vou fazer análise dos times e nem dos atletas que vão participar do evento. A intenção é mostrar um pouco sobre os países e dar uma pequena noção do que cada nação representa. As origens, os nomes, as características, enfim, um panorama do mundo presente à 19ª edição da Copa do Mundo de Futebol. Além de várias publicações e do vasto material disponível na internet, que foram valiosos na pesquisa, compartilho aqui do conhecimento adquirido ao longo dos anos, primeiro como curioso e admirador do futebol, depois como jornalista esportivo. Tudo com pitadas de humor e comentários sem qualquer pretensão, a não ser a de contribuir para que você, leitor, saiba um pouco mais sobre cada povo representado por bravos e nobres atletas, que carregam sobre os ombros os anseios e a torcida dos compatriotas.

ÁFRICA

Impressionante como o continente que é tido como origem da humanidade somente agora receba uma competição do porte de uma Copa do Mundo. O nome África não tem uma origem determinada. Segundo Edgardo Otero, em seu livro A Origem dos Nomes dos Países, algumas fontes dizem que vem de 'Ifrigos Bin Qais Bin Seif', um dos reis do Iêmen, do século 13. Outra opção é que venha de 'Ifriqiyyah', cidade fundada por um tal 'Ifrigo Bin Abraha Al-Raish'. Tem também quem afirme que a origem do termo vem do grego "A Frike", que significa "sem frio". Enfim, mesmo sem saber exatamente de onde vem o nome do continente, fato é que, finalmente, esta parte do globo tão estigmatizada, tão segregada, esteja no centro das atenções e possa fazer parte de um evento como a Copa.

GRUPO A

África do Sul, França, Uruguai e México

O passeio pela Copa começa pelo grupo do anfitrião. É um dos mais difíceis e complicados. Os anfitriões jogam com a torcida e a experiência de Carlos Alberto Parreira no comando. A França é uma potência do futebol, mesmo não estando numa boa fase. O Uruguai quer retomar o espaço perdido entre os grandes. E o México luta para subir um degrau e deixar de ser um mero coadjuvante.

ÁFRICA DO SUL

Quando Vasco da Gama contornou o Cabo da Boa Esperança, no século 15, mostrou aos europeus uma região desconhecida e maravilhosa. Os holandeses logo cresceram o olho e lá se instalaram, fundando a Cidade do Cabo, em 1652. Na verdade o povoado já existia, habitado pelos nativos Khoikhoi. Mesmo assim foram os visitantes invasores que levaram os louros (sem trocadilho) da fundação do local. Os khoikhois não foram com a cara dos holandeses e se mostraram hostis desde o início. Nada que afastasse os estrangeiros, que se estabeleceram à força e impuseram sua cultura e seus costumes. Com a descoberta de diamante e ouro em terras sul-africanas, a cobiça aumentou e o maior poder de fogo holandês tratou de mostrar quem mandava no local. Os bôeres, como eram chamados os colonos holandeses, instalaram um regime severo e violento na porção mais ao sul do continente. O Congresso de Viena concedeu o território à Inglaterra e este fato gerou uma enorme briga entre os ingleses e os bôeres. Para se manterem na região, os holandeses se refugiaram no interior do território. A briga continuou até meados do século 20, quando a África do Sul deixou de ser colônia inglesa. A língua falada pelos brancos é o Africander, uma mistura de holandês, inglês e termos da língua local. O país foi palco de um dos mais violentos e inacreditáveis regimes de segregação racial já vistos, o apartheid. A minoria branca tratava a ferro e fogo o imenso contingente de habitantes negros, que somente no final do século passado conseguiram ascender ao poder, através de Nélson Mandela. O esporte favorito ainda é o Rugby, resultado da colonização britânica, mas há espaço também para o cricket, outro esporte bretão. O futebol sempre teve adeptos, sobretudo na comunidade negra e recebeu forte influência do estilo inglês de se jogar. A Copa do Mundo realizada no país serve para mostrar que a democracia venceu o racismo, pelo menos em tese, e que hoje brancos e negros convivem em relativa harmonia, tirando os radicais de um lado e de outro, que eventualmente se estranham e causam tumultos. A equipe conta com alguns atletas experientes, que atuam na Europa, mas não há nenhum grande astro. O técnico Carlos Alberto Parreira almeja passar de fase, o que já seria uma grande vitória.

FRANÇA

A Gália de Asterix, Obelix e Companhia é o território onde hoje se encontra a França, país originado de uma série de povos bárbaros que migraram ao longo da história para esse local no oeste da Europa. Com um passado de guerras, batalhas, pestes e outros fatos graves e marcantes, adquiriu ares de estado após a Revolução Francesa, que disseminou os ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade no século 18, e influenciou várias nações. O nome França vem dos Francos, uma das tribos que dominaram aquele pedaço. A França revelou ao mundo o gênio militar do ditador Napoleão Bonaparte e a beleza incomparável de Brigitte Bardot. Da região de Champagne o espumante mais famoso e desejado, sem falar nos queijos e perfumes, verdadeiras jóias francesas. Dominou quase toda a Europa e foi um dos países com maior número de colônias mundo afora, da Ásia à Africa, sem esquecer das Américas. O futebol sempre refletiu o espírito libertário e democrático dos franceses, em que pese o famoso mau humor de seus cidadãos. Jules Rimet idealizou e presidiu a FIFA e ajudou a organizar um torneio de seleções que se transformou na maior competição esportiva do planeta, ao lado dos Jogos Olímpicos. A Taça de campeão que levava seu nome foi conquistada em definitivo pelo Brasil e virou pó em um dos roubos mais mal explicados da história. Tem o maior artilheiro em uma única edição de Copas (Just Fontaine, 13 gols em 1958) e montou uma das melhores seleções do mundo, que encantou nas copas de 78, 82 e 86, sempre comandada pelo craque Michel Platini. Campeã em 1998, quando foi liderada por Zinedine Zidane, e finalista em 2006, chega à África do Sul em baixa, com um time irregular e sem um grande jogador de referência. Sua classificação ocorreu por um erro inacreditável do árbitro Martin Hansson, da Suécia, que não viu um toque escandaloso de mão do atacante Thierry Henry, no empate por 1 a 1 com a Irlanda, no Stade de France, em Saint-Denis. Na jogada, Henry dominou a bola com a mão e tocou para Gallas marcar, ao tempo que os irlandeses reclamaram muito com o árbitro, mas sem sucesso. O técnico Raymond Domenech está no fio da navalha, a torcida e a imprensa francesas o querem longe da seleção, e poucos creem numa campanha vitoriosa em 2010.

URUGUAI

Chamado de República Oriental do Uruguai, tem o nome derivado do rio Uruguai, que significa Rio dos Caracóis. O país fica na margem leste desse rio. Os espanhóis colonizaram e sobrepujaram as tribos que habitavam a região. A maior delas, dos Charruas, extremamente agressiva, não se rendeu e vendeu caríssimo a derrota. A riqueza existente nas pradarias dali gerou a criação de rebanhos que dão até hoje ao mundo uma das melhores carnes bovinas. O passado de lutas e resistências confere aos uruguaios a garra, a valentia, e a raça demonstradas em campo pelos atletas. Com jogadores talentosos e altivos dominou o futebol mundial nas primeiras décadas do século 20. Foi bicampeão Olímpico (em 1924 e 1928), daí a alcunha de Celeste Olímpica, venceu também o primeiro Mundial, quando sediou a competição em 1930, e foi responsável pela vitória mais surpreendente e traumatizante da história, o famoso Maracanazo de 1950, quando calou o Brasil e fincou a bandeira no maior do mundo. Com o passar dos anos o Uruguai foi marcado por golpes militares e um empobrecimento que levou ao êxodo de seus principais jogadores. A situação econômica faz com que o país tenha um ar meio decadente, embora seja alto o grau de alfabetização e de cultura de seus habitantes. Hoje tem uma seleção relativamente forte, mas com poucos jogadores de alto nível. Vive do passado e busca readquirir o espaço entre as grandes equipes. Não chega à Copa com maiores possibilidades, mas pode surpreender quem subestimar sua bravura e tenacidade.

MÉXICO

Quando os espanhóis pisaram o solo americano, se depararam com um mundo completamente diferente do que estavam acostumados. Territórios inóspitos, grandes florestas que guardavam riquezas incomensuráveis. Descendo o imenso pedaço de terra que constituía o novo continente, várias tribos indígenas se instalaram no vale cercado de lagos e pelo mar do caribe. Uma dessas tribos, a dos Aztecas, sobressaiu-se pela força e pela violência, e acabou sobrepujando as mais frágeis. Além disso mostraram alto grau de organização social e hierárquica, e desenvolveram técnicas agrícolas para extrair o melhor do fértil solo. A grande quantidade de ouro despertou a cobiça espanhola e sucessivas expedições dizimaram as populações locais. O nome México tem várias origens e versões. A mais provável é de que derive do termo 'Metztli', que é Lua na língua Azteca. A Lua é uma das divindades aztecas e ao lago onde a tribo se instalou quando migrou para lá foi dado o nome de Lago da Lua. No meio deste lago havia uma ilha, chamada de México. Portanto, o significado de México é "Centro do Lago da Lua". A população mexicana é extremamente influenciada ainda pela cultura e pelos costumes indígenas. A miscigenação é grande, tanto a língua quanto a culinária se baseiam nos antepassados. O país é, hoje, uma das economias emergentes, tal qual o Brasil, autosuficiente em petróleo e de grande potencial de consumo. É a maior potência futebolística das Américas do Norte e Central e o de maior tradição no esporte. Disputou 13 Copas do Mundo e sediou a competição em duas oportunidades. Mas nunca foi muito longe. As melhores colocações são dois sextos lugares, justamente nas duas vezes que foram os anfitriões, em 1970 e 1986. Tem um campeonato nacional de clubes disputado e rico, mas a seleção nacional padece de poder e autoconfiança. Num grupo tão difícil como esse é difícil prever resultados, mas o México não será presa fácil para ninguém e pode alcançar a classificação.

GRUPO B

Argentina, Nigéria, Coréia do Sul e Grécia

É um grupo heterogêneo, dos mais complicados e imprevisíveis. Tem a Argentina, grande potência mundial e sempre candidata ao título, ao lado da Nigéria, potência africana que luta para retornar aos holofotes. A Coréia do Sul, que tem sido freqüente em Copas e aposta alto na velocidade de seus jogadores, e o futebol pragmático e de força da Grécia. Um sul-americano, um europeu, um asiático e um africano. Confronto de estilos e escolas.

ARGENTINA

Quando se fala da Argentina, nós, brasileiros, logo imaginamos um povo metido a besta, cheio de si, com aquele ar de europeu que torce o nariz para os “macaquitos” brasileiros. A rivalidade Do futebol resvala para outras áreas, e fica sempre a impressão de que estamos disputando espaço com eles em tudo, mesmo fora do esporte. Tirando essa disputa paroquial, é um belo país, com grandes extensões de terra, formada por planícies, florestas e cataratas. A carne bovina é considerada por muitos a melhor do mundo. O nome Argentina vem do latim ‘Argentum’, que significa prata. O país é cortado pelo Rio da Prata, que nasce no Uruguai e os colonizadores espanhóis acreditavam que naquele território havia grande abundância desse mineral. Várias tribos indígenas habitavam o território e todas se uniram para repelir os invasores, primeiro os espanhóis, depois os ingleses. Talvez isso explique o patriotismo exacerbado, a garra e a paixão que os hermanos empregam em tudo que disputam. Declarou sua independência e tornou-se república antes mesmo do Brasil, mas também conviveu durante anos com golpes militares e instabilidade política. Teve um autêntico caudilho a comandar a nação, Juan Domingo Perón, e até hoje o cara é um mito. Sofreram muito para assegurar a vaga na África, mas tem o melhor jogador do mundo na atualidade. O selecionado comandado por Maradona ainda não adquiriu o conjunto ideal, mas com excelentes jogadores chega ao mundial em condições de disputar o título. E sabemos que nossos vizinhos não entram em briga para perder...

NIGÉRIA

A Nigéria é apontada como o mais forte país africano nesta copa. Quer dizer, apontada por alguns, já que Camarões e Argélia estão no mesmo nível, ou até acima. Este país grande e rico, mas repleto de problemas institucionais e sob uma severa ditadura militar, tem vários jogadores atuando pela Europa e com larga experiência internacional. Protetorado britânico durante anos, é uma união de vários reinos e outros territórios mais modestos, que foram unificados ao longo do tempo. O nome do país deriva do rio que corta a região, o Níger (não confundir a Nigéria com a República do Níger), e que por sua vez significa 'rio entre rios', da frase 'Gher N-Gheren', de idiomas locais. A Nigéria foi o país africano que mais destaque alcançou no futebol nos últimos vinte anos, juntamente com Camarões. Ganhou medalha de ouro olímpica e foi osso duro de roer nas copas de 94 e 98, quando chegou às quartas-de-final. O futebol é de muita força e disposição, aliadas à ginga e à malandragem africanas. Fez bom papel nas eliminatórias e não tem medo de encarar as grandes potências. O povo nigeriano é valente e acostumado a brigas e batalhas no campo militar e político. No futebol também apresentam esta segurança e determinação.

CORÉIA DO SUL - Korea Republic

A República da Coréia, chamada de Coréia do Sul, é um dos países que mais se desenvolveram e cresceram nas últimas décadas. Integra o grupo dos Tigres Asiáticos, com economia pujante e alto grau de desenvolvimento. Também tem tradição em Copas do Mundo e engata sua sétima participação seguida em mundiais. O país, como todos os asiáticos, tem origens que remontam a vários séculos antes de Cristo. As primeiras tribos que ocuparam a península coreana vieram da Sibéria, mas o território foi sempre disputado e ocupado por Chineses, Mongóis e Japoneses. O nome Coréia deriva de Kori ou Koryo, uma dinastia que dominou a região no século 1 d.C. e dominou as demais populações. O povo sul coreano é extremamente disciplinado e com grande poder de superação. Está envolvido em uma das mais renhidas disputas com o território mais ao norte. A península coreana hoje é a região mais militarizada e perigosa do planeta, com os ânimos acirrados em tempo integral. No futebol, a seleção não é tão forte, mas pode surpreender devido à velocidade e experiência de alguns atletas que atuam na Europa. Classificou de forma invicta e chega bem confiante à disputa.

GRÉCIA - Hellas

O que dizer da República Helênica, ou Hellas, ou Grécia? Berço da civilização ocidental, dos grandes pensadores e filósofos, da democracia. A história do mundo passa por este pequeno território nos bálcãs, região européia comprimida entre os mares Adriático, Mediterrâneo e Jônico. O país foi dominado pelos Persas, Macedônios, Romanos, Turcos Otomanos, Italianos, com poucos períodos de independência. O nome Hellas vem de ‘Hélade’, ou ‘Terra dos Helenos’, que por sua vez deriva de ‘Héllen’, filha de Deucalião e Pirra, personagens mitológicos. Já o termo Grécia é fruto do latim ‘Graecia’ ou ‘Graeci”, que remete a ‘Graikoi’, nome do povo que vivia numa das áreas daquele país. No esporte o país é o berço dos jogos olímpicos, que tem esse nome pela competição que, de acordo com a mitologia grega, ocorria no Olimpo, terra dos deuses. Os Jogos Olímpicos modernos, aquela competição criada pelo Barão Pierre de Coubertin, também tiveram início na Grécia, no século 19 e o país é sempre o primeiro a abrir o desfile inaugural das Olimpíadas. No futebol, embora sejam fanáticos por esse esporte e o bicho pegue nas disputas locais, não há grande presença e tradição em competições internacionais. Por isso a grande surpresa quando os gregos conquistaram a Eurocopa em 2004. Disputaram apenas a Copa do Mundo de 94 e saíram na primeira fase. Desta vez, passar para as oitavas já será uma grande vitória.

GRUPO C

Argélia, Eslovênia, Estados Unidos, Inglaterra

Esse é um grupo estranho, dos mais interessantes. Um representante da África, mas da escola islâmica, de menos força e mais agilidade, um país europeu derivado da antiga Iugoslávia, os sempre competitivos Estados Unidos e a imprevisível Inglaterra. Considero os ingleses um dos favoritos ao título, mas é apenas um palpite. Bons jogadores e um técnico vencedor eles possuem. Resta saber se vão corresponder.

INGLATERRA - England

A expansão marítima empreendida a partir do século 15 transformou a Inglaterra numa grande potência. As ilhas foram ocupadas durante séculos por celtas, romanos e por povos bárbaros, como os anglos, os saxões, os jutos e os normandos. O nome 'Bretanha' vem do grego 'Pritani', nome derivado de uma tribo que habitava a região, os 'Pictas'. Os romanos transformaram em 'Britannia' e daí pulou para Bretanha. No século 5 d.C. a parte sul da ilha foi invadida pelos 'Anglos' vindos da escandinávia, e o território passou a se chamar 'England', ou 'Terra dos Anglos'. Após séculos envolvidos em brigas internas e guerreando com as potências do continente, como França e Espanha, as Ilhas Britânicas se uniram e rapidamente se desenvolveram. Dominaram o comércio internacional devido ao controle dos mares e expandiram seus domínios para todos os cantos do planeta. Formaram o primeiro império verdadeiramente global, e mantiveram colônias em todos os continentes, até o seu desmembramento ao longo do século 20. Fizeram a revolução industrial, que mudou a cara do mundo e iniciou uma era de desenvolvimento e corrida pela supremacia em todos os níveis. O “Império aonde o Sol nunca se Põe” foi também o berço do futebol moderno, tal qual é disputado hoje. A autossuficiência e a arrogância britânicas fizeram com que esnobassem os demais países e impingiu-lhes derrotas humilhantes, como as goleadas para a Hungria, na década de 50, e para os EUA, na copa de 50. Por outro lado, depois de anos e anos de isolamento e preconceito, quando baseavam seu jogo nos famosos ‘chuveirinhos’, possuem hoje o mais rico e organizado campeonato de futebol da Europa. A Copa da Inglaterra é a competição mais antiga e tradicional de clubes e os embates com os vizinhos escoceses figuram entre as maiores rivalidades entre seleções. O time comandado pelo italiano Fábio Capello tem muitos grandes jogadores e é apontado como um dos candidatos ao título na África do Sul. Nas eliminatórias perderam apenas uma vez e, depois de 1966, quando foram anfitriões e venceram o mundial, levam sua melhor equipe para a disputa do troféu mais cobiçado do mundo.

ESTADOS UNIDOS

Maior potência militar e econômica do planeta, comanda o comércio internacional, maior país consumidor de tudo que se pode imaginar, e também maior vencedor em vários esportes. Como aconteceu em todo o continente americano, suas terras começaram a ser ocupadas há milhares de anos por povos vindos da Ásia. Os indígenas americanos fincaram pé no amplo território e empreenderam ali sua cultura e seus costumes. Os invasores espanhóis trataram de explorar as riquezas, sobretudo ao sul da região. Os ingleses e os franceses também ocuparam parte do novo mundo e disputaram a supremacia. A Inglaterra finalmente se impôs no controle do país, que se reuniu em 13 colônias. De tanto brigarem pela independência, os norte-americanos conseguiram se libertar do domínio inglês. Formaram os Estados Unidos da América do Norte, primeiramente com as treze colônias, que se tornaram estados, e depois com a anexação e a compra de outros territórios. O espírito liberal, empreendedor e atrevido dos estadunidenses rapidamente transformaram em potência a nação, que se desenvolveu culturalmente, cientificamente e politicamente. Influenciaram os demais estados do continente a buscar a independência e a investir no livre comércio e na industrialização. O incentivo ao esporte fez com que os americanos se destacassem em todas as competições internacionais. Mas o futebol bretão nunca teve tanto destaque entre os habitantes daquele país, a não ser entre os imigrantes e moradores dos estados mais ao sul, influenciados fortemente por latinos vindos de nações mais pobres em busca de realização e de melhores condições de vida. Participaram da primeira Copa do Mundo, em 1930, e protagonizaram aquela que é considerada a maior zebra da história dos mundiais, ao vencerem a Inglaterra por 1 a 0, em 1950, no estádio Independência, em Belo Horizonte. Sediaram a competição em 1994 e engatam agora na África sua sétima participação seguida. Como em qualquer competição esportiva, não são bobos e nem se amedrontam. Se lhes falta habilidade, sobra disposição e autoconfiança. Não duvido que passem de fase.

ESLOVÊNIA - Slovenia

País novo, oriundo do desmanche da antiga Iugoslávia, habitado pelos eslovenos, povo eslavo que durante séculos foi dominado por francos, germanos, bávaros e russos. O termo ‘Eslovênia’ significa “Terra dos Eslavos”. Os eslavos sempre foram saco de pancada na Europa. Praticamente todos os povos os submeteram à escravidão e aos mais diferentes sofrimentos. Por isso o significado de eslavo não poderia ser outro que não “homem reduzido à servidão”. Mas há quem diga que ‘eslavo’ deriva de ‘Slava’, que significa ‘Glória’. Mas com o tempo ‘Slavo’ passou a ser chamado de ‘Sclavo’ ou ‘Sclavus’, que é ‘escravo’ em Latim. Os eslavos se autodenominam ‘glorificadores’, fazendo crer que a origem do nome vem mesmo de Glória. Enfim, há vários povos cuja origem são os eslavos e não há uma característica única. Os antigos eslavos do sul se estabeleceram nesta região que hoje compreende esse pequeno país. O futebol da Iugoslávia sempre foi chamado de ‘brasileiro’, pelo estilo leve e de toque de bola. A Eslovênia disputou a copa de 2002, não passou da primeira fase e se classificou para a África do Sul vencendo a Rússia na repescagem. O futebol do país ainda não tem uma cara própria e poucos atletas de destaque internacional.

ARGÉLIA - Algeria

República Argelina Democrática e Popular é o pomposo nome desse país do Maghreb, região que compreende os países mediterrâneos e sub-saarianos da África e da Ásia. Sua origem remonta há vários séculos antes de Cristo e a região foi ocupada por tribos nômades que vinham da Ásia. Cartagineses, romanos, bizantinos e árabes otomanos dominaram o território durante séculos. Colonizada pelos franceses, só se tornou estado independente em 1962, após anos de luta e guerrilhas. O nome do país deriva da principal cidade e capital Argel, em catalão ‘Alguere’ e em francês ‘Alger’. O nome original é ‘El-Djazair’, que significa “as ilhas”, em referência a quatro ilhas próximas à Argélia. O futebol tem muita influência dos franceses, com toques rápidos e muita velocidade. É uma potência do continente e pode ser um adversário chato e perigoso. Não será absurdo se conseguirem vaga na fase seguinte da Copa.

GRUPO D

Alemanha, Austrália, Gana, Sérvia

Aparentemente é um grupo fácil para os alemães. Mas não se enganem. A Alemanha é sempre uma candidata ao título, mas os africanos de Gana são perigosos e não são bobos. A Sérvia é a mais forte das seleções da antiga Iugoslávia. Já a Austrália não aparenta oferecer dificuldades.

ALEMANHA - Germany - Deutschland

República Federal da Alemanha. Os germanos eram povos bárbaros que ocuparam a região do rio Reno no primeiro século da era cristã. Foram adversários implacáveis das tropas romanas e responsáveis pelo colapso do Império Romano. O nome ‘Germano’ vem de ‘Germani’, e é um genérico das tribos que viviam nas proximidades do Reno. Agrupavam-se sob esta denominação os francos, alamanos, godos, saxões, anglos e jutos. O nome Alemanha vem dos alamanos, que invadiram e ocuparam boa parte das terras romanas na região. Na Idade Média falava-se, além dos dialetos de cada tribo, o latim, língua usada pela Igreja e pelas classes mais cultas e abastadas da sociedade. Um dos dialetos populares era o ‘Theodisce’, que significava ‘do povo’ ou ‘da gente’. Desse nome deriva a palavra ‘Tedesco’, que é como os italianos denominam os habitantes da Alemanha. ‘Theodisce’ resultou em ‘diustic’, que virou ‘deutsch’ na língua alemã. Por isso o nome “Deutschland”, que significa “Terra dos Deustch”. A Alemanha só virou estado unificado e independente no século 19, sob a batuta de Otto Von Bismarck. Com a revolução industrial entrou na corrida colonialista da época e, com a tradição de grandes guerreiros e a cultura militarista tornou-se potência européia. Protagonizaram os principais acontecimentos da história contemporânea, atravessaram duas guerras absolutamente sangrentas e brutais, viram a nação dividida por um muro durante décadas e retomaram a unidade já no fim do século 20. É uma nação poderosa, econômica e politicamente. No futebol sempre esteve entre os grandes. Venceu três Copas do Mundo e foi vice-campeã em quatro oportunidades. Desbancou em duas ocasiões o favorito, nas copas de 54 (Hungria) e 74 (Holanda). O futebol é de força e de disposição, disciplina tática e descomunal autoconfiança. Nunca podem ser desprezados, pois a história do país prova que os alemães são guerreiros natos, em qualquer segmento e competição que participam. O time atual não assusta, são poucos jogadores de alto nível, ao contrário de copas anteriores. Perderam ainda o principal atleta, Ballack, contundido. Mas a Alemanha é sempre surpreendente.

AUSTRÁLIA

Terra dos cangurus, país de proporções continentais e que fica na distante Oceania. Era habitada por tribos aborígenes de cultura bastante avançada. Foi descoberta e explorada no século 16. Os portugueses foram os primeiros a chegar, seguidos por franceses, holandeses e espanhóis. O nome desta que é a maior ilha do mundo é uma homenagem à Casa de Áustria, dinastia que reinava na Espanha. Primeiramente era chamada de ‘Austrialia’, depois resultando em ‘Austrália’. Outra corrente diz que o nome vem ‘Terra Australis’, já que constava nos mapas da época como ‘terra desconhecida do sul’ (Terra Australis Incógnita). O governo britânico tomou posse da região em 1770. Ali estabeleceram uma colônia penitenciária, mandando para lá criminosos deportados. Eram ladrões, marinheiros desertores, oposicionistas irlandeses e demais infratores. Os aborígenes foram escravizados, fuzilados, envenenados e tiveram suas terras tomadas. Com a perda de suas colônias da América e com o domínio dos mares da região, os ingleses dotaram a nova terra de estrutura e condições que a fizeram desenvolver-se e tornar-se um território importante para o império. Hoje a Austrália é uma potência da região, com economia estável e grande desenvolvimento educacional e esportivo. Mas não tem tradição alguma no futebol.

GANA

País rico em ouro e jazidas minerais, Gana foi alvo da cobiça européia desde que os portugueses chegaram à costa ganense no século 15. Vários países disputaram as riquezas de seu território. Além de Portugal, Grã Bretanha, Holanda, França, Suécia, Alemanha e Dinamarca tentaram controlar o local. No final do século 19 somente ingleses e holandeses restavam nessas terras. Os britânicos incorporaram ao império e denominaram o país de Costa do Ouro, até a independência em 1957, quando se tornou o primeiro país africano a libertar-se do colonialismo europeu. O nome adotado, Gana, referia-se ao império que existiu entre os séculos 4 e 13 na África Ocidental. O império era conhecido como ‘Aoukar’, ou ‘Uagadu’, na língua nativa soninquê. Os árabes davam à potência o nome do rei “Ghan-a”, que significava “chefe de guerra”. Na verdade, o território em que se encontra Gana moderna não tem relação com o dito império medieval, mas os descendentes daquele império se transferiram para o atual território. O maior império africano e que abarcou todo aquele pedaço foi o Império Mali, onde hoje estão os países Mali e Mauritânia. Gana foi um dos maiores fornecedores de escravos para as Américas. No futebol destacou-se nas categorias de base, conquistando títulos mundiais e exportando jogadores fortes e habilidosos. Jogou a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, e ficou apenas em 13º lugar. O maior ídolo do país tem um nome conhecido, Abedi Pele, por razões óbvias. Gana chega à competição com pouca expectativa, ainda mais que perdeu seu capitão e ídolo, Essien, do Chelsea, por lesão.

SÉRVIA - Serbia

A península Balcânica é uma verdadeira salada étnica. Ao longo dos séculos foi povoada por tribos ilíreas, trácias, gregas, fez parte do Império Romano, e depois invadida por diversos povos nômades, como os godos, visigodos, ostrogodos, avaros, búlgaros, hunos, e por fim, os eslavos. Esses últimos impuseram suas culturas e crenças religiosas. Na Idade Média a região foi dominada por bizantinos, húngaros e otomanos. A Sérvia conseguiu libertar-se da dominação bizantina em meados do século 11. No século 14 perderam a célebre ‘Batalha do Kosovo’ e sofreram durante 489 anos a dominação otomana. Em 1878 conseguiram a independência, juntamente com o território vizinho de Montenegro. A população, de maioria eslava, sempre foi aguerrida, e o passado de guerras e disputas por espaço, independência e poder colocaram a Sérvia como principal potência daquela meiuca. Estiveram no estopim da Primeira Guerra Mundial e integraram a Iugoslávia após a Segunda Grande Guerra. ‘Iugoslávia’ queria dizer ‘terra dos eslavos do sul’. A Sérvia era a república preponderante, mais rica e poderosa da Iugoslávia. A separação que se deu após a extinção do país, em 1991, gerou uma das mais violentas e absurdas guerras do século 20. O território de Kosovo, habitado por albaneses descendentes de turcos otomanos, que também tentou sua independência, sofreu bastante, graças à batalha citada mais acima. ‘Servia’ significa ‘terra dos homens’ e deriva do indo-iraniano ‘Ser (homem) com o sufixo de plural ‘bi’. O futebol sérvio é característico da região, de força e determinação. Mas tem espaço para jogadores habilidosos e inteligentes. São valentes e de grande disciplina tática. Fez uma das melhores campanhas das eliminatórias, responsáveis por jogar a França para a repescagem. O técnico Radomir Antic é experiente e malandro. Os Sérvios podem surpreender na Copa, se mantiverem a seriedade e a concentração.

GRUPO E

Camarões, Dinamarca, Holanda, Japão

Grupo aparentemente tranqüilo para a Holanda. Camarões é sempre um perigo e a Dinamarca é uma incógnita. O Japão vai ser o azarão, e querem surpreender quem achar que eles são bobos.

CAMARÕES

O território atual de Camarões era habitado pelos povos bantos desde o século 2 a.C.. Dali se dispersaram para sul e oeste do continente. O primeiro europeu a pisar essas terras foi o marinheiro português Fernando Pó, em 1472. Batizou o rio Wouri, que corta a capital, Douala, como o rio dos Camarões, dada a abundância do crustáceo em suas águas. Daí o nome do país. O povo Duala ocupava grande parte do território e resistiu bravamente ao assédio dos alemães, que tentaram dominar a região à força no final do século 19. Os alemães venceram a batalha e sobrepujaram os nativos até a derrota na Primeira Guerra Mundial. Ingleses e franceses invadiram o país e se apropriaram de suas terras. A França ficou com 75% do território e a Inglaterra com os 25% restantes. Em 1960 e 1961 os dois territórios conseguiram a independência e se unificaram sob o nome de República Federal dos Camarões, depois passando a se chamar República dos Camarões. Foi o primeiro país africano a se destacar em uma Copa do Mundo, em 1982, na Espanha. Não passou da primeira fase apenas pelo número de gols marcados. Em 1990 surpreendeu com um futebol atrevido e envolvente, comandado em campo pelo extraordinário Roger Milla. Terminou em um honroso sétimo lugar, e asseguraram sua posição de potência do continente. De lá pra cá só não disputaram o mundial da Alemanha, mas chegam à Copa da África do Sul cheios de esperança em reviver seus melhores dias. O astro do time é o atacante Samuel Eto’o. É um time valente, forte, rápido e consistente. Mas os camaroneses esbarram na tradicional deficiência tática e no excesso de violência de alguns jogadores.

DINAMARCA - Denmark - Danmark

O Reino da Dinamarca começou o processo de unificação por volta do ano 700 d.C. Os vikings habitavam a região. País gélido, conseguiu se defender das invasões vindas do sul e estabeleceu fortes laços com os vizinhos Noruega e Suécia. É um dos mais antigos e longevos reinos da Europa e também dos mais estáveis. Tem possessões no Atlântico Norte (Groenlândia e Ilhas Faroe) e seus antepassados foram os primeiros europeus a pisarem o solo americano, antes mesmo de portugueses e espanhóis. O nome Dinamarca vem de ‘Danmark”, que significa ‘terras de Dan’. Segundo a lenda, Dan era um bebê que chegou ali sozinho num bote. Quando cresceu tornou-se o primeiro rei da Dinamarca, numa era relatada por lendas e fábulas. Quando morreu, o povo colocou o corpo de Dan num bote e o empurrou para o mar, de onde viera. Em reconhecimento a sua autoridade foi dado o nome ao país de Danmark. Quando a Dinamarca debutou em mundiais, na copa de 1986, no México, trouxe consigo toda a magia e todo simbolismo dessa história. Um povo alegre, barulhento, cheio de roupas coloridas e uma animação contagiante. Em campo, uma equipe que surpreendera na Eurocopa do ano anterior e que apresentava um esquema tático pouco usado e ainda desconhecido para muitos, o 3-5-2. Tinha um craque, Michael Laudrup, um artilheiro trombador e eficiente, Elkjaer, e um grupo de jogadores habilidosos, inteligentes e pouco acostumados a disputas mais acirradas. Tanto que, depois de encantarem e atropelarem os primeiros adversários, com direito a goleada no Uruguai por 6 a 1, foram despachados pela Espanha, que pôs fim ao sonho viking ao golear por 5 a 0. Só retornaram em 1998, na copa da França, quando caíram diante do Brasil nas quartas-de-final por 3 a 2. Sempre se caracterizaram por um futebol ofensivo e vibrante, e fizeram grande campanha nas eliminatórias. Seus jogadores atuam nos principais centros da Europa e não devem sentir o peso da disputa.

HOLANDA - Países Baixos - Netherlands - Nederland

O nome oficial é Reino dos Países Baixos, mas essa era a denominação dada também a Bélgica, Luxemburgo e uma parte da França, que estãos situadas abaixo do nível do mar. O espaço era habitado por celtas e germanos quando os romanos chegaram no século 1 a.C. Algumas regiões conseguiram resistir aos ocupadores e se transformaram em ducados e principados independentes. Um desses principados, o de Holland, era a maior força econômica e política quando foram unificados sob a denominação de União de Utrecht. As várias guerras que se travavam na Europa na Idade Média fizeram com que as controvérsias gerassem batalhas e rivalidades. Uma dessas, entre a Província de Holland e a Casa de Orange, dinastia fundada por Maurício de Orange. Os holandeses se tornaram potência naval e fundaram a Companhia das Índias Orientais, com bases na Indonésia, Índia e Ceilão. Também se aventuraram pela África e pela América, chegando a aportar no Brasil, sobretudo em Pernambuco, mas foram rechaçados pelos portugueses. A independência definitiva só foi conseguida após a queda de Napoleão, que havia anexado o território à França. Guilherme I de Orange restaurou a monarquia. O nome ‘Países Baixos’ já foi explicado, e seu equivalente em inglês é ‘Netherlands’ (neder=baixo, landen=terra ou país). O nome Holanda vem de Holland, uma das províncias que compõem o reino. No século 17 os navios desta província iam a diversos países do mundo e todos os que vinham daquelas terras eram chamados de Holanda. Os ingleses chamam os holandeses de ‘Dutch’, uma derivação de ‘Deutsch’, que significa ‘do povo’ ou ‘da gente’. No futebol a Holanda vive ainda das lembranças do Carrossel Holandês. Sensação em 1974, perdeu a final para a também estupenda Alemanha, e repetiu a dose em 78, perdendo a decisão para a Argentina. Nunca mais chegou a uma final de Copa, mas sempre que participa da competição apresenta um futebol de toques rápidos e muita movimentação, com incrível vocação ofensiva. Reflexo dos próprios cidadãos do país, um dos mais liberais e expansivos da Europa. O apelido Laranja Mecânica foi dado em 1974, em alusão ao filme homônimo de Stanley Kubrick, que por sua vez é inspirado no romance de Anthony Burgess. O ritmo alucinado da equipe de Rinus Michels e a falta de limites táticos de Cruyff e cia pareciam saídos da obra do escritor inglês. E a camisa alaranjada do selecionado, em referência às cores da Casa de Orange, completavam a menção.A seleção atual não tem nenhum craque da estirpe de Cruyff, Neeskens, Van Basten ou Gullit, mas tem ótimos jogadores como Sneijder e Robben. Este, no entanto, se machucou e pode ser um desfalque sério caso não se recupere a tempo. Nas eliminatórias tiveram 100% de aproveitamento e estão entre os favoritos para a conquista do torneio.

JAPÃO - Nipon

O Japão é um arquipélago com mais de três mil ilhas. As origens do país remontam a milhares de anos antes do início da era cristã. A região sempre foi divida em vários estados e os povos que ali habitavam chegavam da China e da Ásia Central. Inclusive a forma de dividir a terra em quadrados, os caracteres da escrita e a religião budista são traços da presença chinesa em seu território. A unificação dos diversos reinos se deu a partir do século 9, com os mais fortes se sobressaindo aos mais fracos. Era comum cada reino ter seu exército de samurais, mas todos se uniram na guerra contra os mongóis. No século 17 o clã Tokugawa consolidou a supremacia em todo o país e dominou o Japão a partir da fortaleza de Edo, hoje Tóquio. A origem do nome do país vem do chinês. Dois caracteres representam Sol e Origem, que descreve a situação do país a leste da China. A pronúncia japonesa dos caracteres gerou a palavra ‘Ni-Hon’, ou ‘Ni-Pon’. Os japoneses chamam seu país de Daí Nihon ou Daí Nipon, que significa “grande país de onde sai o sol” ou “grande país do sol nascente”. A palavra ‘Japão’ não tem origem bem explicada. Acredita-se que seja derivada do malaio “Jhin Pun”, que equivaleria a “Sol Oriente”. No futebol a pretensão do Japão é passar de fase. O futebol ainda é fraco, mesmo que alguns jogadores atuem em grandes centros e que o campeonato local já tenha se consolidado como um dos principais da Ásia. Disputaram as três últimas copas e foram relativamente bem na que sediaram, em 2002.

GRUPO F

Eslováquia, Itália, Nova Zelândia, Paraguai

Este é um dos grupos menos interessantes, ou menos atraentes. A Itália é sempre candidata ao título, estando bem ou não. O Paraguai é osso duríssimo de roer. A Eslováquia uma incógnita e a Nova Zelândia veio a passeio. Não deve haver muita surpresa. Vejamos.

ITÁLIA

Primeiramente habitada pelos etruscos, no século 9 a.C, depois tomada pelos Celtas e finalmente controlada pelos romanos, a península itálica foi, depois da Grécia, o berço de toda a nossa cultura e nossa identidade. Após consolidarem o domínio interno, os romanos começaram uma era de expansão que levou à montagem do mais importante e mais influente império da humanidade. Dos gregos apropriaram a cultura e os costumes, e assim fizeram por toda a Europa, pela Ásia e na África. A língua falada, o latim, que vinha de uma das províncias da região, o Lácio, gerou vários idiomas que hoje conhecemos. O nome Itália é muito antigo. Foi usado no século 5 a.C. em documentos que identificavam a ponta da península como ‘Italic Vitelia’, ou ‘terra dos bezerros’. Há quem diga que Itália vem do legendário rei Ítalo. Somente com a unificação dos estados e reinos da região, já no século 19 d.C. é que o nome Itália passou a designar o país. Na Idade Média, em alguns estados, praticava-se um esporte violento, que utilizava cabeças humanas e outros objetos como bola, disputado entre duas equipes, o Cálcio. Esta é uma das origens do nosso futebol. A tradição italiana nesse esporte começou a ser construída na segunda Copa do Mundo, em 1934, quando o país sediou a competição. O ditador Benito Mussolini fez da disputa um instrumento de afirmação do regime fascista e o título foi apenas a conseqüência do ‘investimento’ feito pelos italianos nessa conquista. Na Copa seguinte venceram novamente. Os italianos sempre foram jogadores habilidosos, rápidos e eficientes. A defesa sólida e consistente parece saída dos manuais militares das famosas legiões romanas. O comportamento irrequieto e o temperamento explosivo dos cidadãos italianos se refletem também em campo. É o segundo maior ganhador de copas, com quatro títulos, e foram vice-campeões em duas oportunidades. Sempre chegam como favoritos e desta vez não é diferente. Ficaram invictos nas eliminatórias, embora o time se ressinta de jogadores mais talentosos e criativos. Baseiam seu jogo em muita força e uma espetacular qualidade de marcação. Será zebra se não chegarem longe.

PARAGUAI

Um dos países mais pobres e mais discriminados da América do Sul, o Paraguai carrega consigo uma fama pesada. É um país interessante. A história é cheia de disputas e batalhas travadas entre os indígenas e os colonizadores espanhóis. Enquanto servia aos interesses da Coroa espanhola, foi apropriado e explorado à exaustão, e depois largado à própria sorte, já com imensa quantidade de mestiços e sem qualquer estrutura montada pelos europeus. Sempre conviveu com a instabilidade política e crises econômicas. Mas é também um dos poucos países sul-americanos que mantém a cultura indígena em pé de igualdade com a dos brancos. A língua oficial do país é o Guarani, juntamente com o espanhol. O nome ‘Paraguai’ não tem uma explicação segura para sua origem. Acredita-se que signifique ‘rio dos marinheiros’, em guarani, ‘Paraguai’. Na língua dos indígenas, Paraguá significa ‘marinheiro’, e Y ou I significa ‘água’ ou ‘rio’. No futebol o Paraguai sempre foi um adversário chato e indigesto. O futebol aguerrido e de muita força reflete o estado de espírito dos guaranis. Vai para sua quarta copa consecutiva, após uma campanha consistente nas eliminatórias. Não tem nenhum grande craque, mas possui jogadores de qualidade e com experiência internacional. Não joga bonito como os vizinhos mais célebres, no entanto vende caríssimo qualquer resultado. Chega prejudicado pela ausência de seu mais carismático jogador, o atacante Cabañas, que se recupera lenta e milagrosamente de um ferimento a bala na cabeça após uma briga no México. Vai disputar com a Itália a supremacia do grupo e pode muito bem chegar em primeiro na chave.

ESLOVÁQUIA - Slovakia

Antes da era cristã o território da Eslováquia era habitado por tribos celtas. Já nos séculos 6 e 7 depois de Cristo chegaram outras tribos nômades, sendo a principal a Slovak, de origem eslava. Depois de várias lutas e batalhas entre elas, foram unidas e formaram o reino eslovaco. A terra habitada pelos slovacs é chamada de ‘Slovenska’, que pode ser traduzido como ‘terra de palavras’, pois ‘slovo’ significa ‘palavra’ em eslovaco. Durante os séculos seguintes o país foi dominado pelos francos, tchecos, húngaros e germânicos. Com os tchecos da Moravia e da Boêmia formaram a Grande Moravia e estreitaram seus laços culturais e religiosos. Os reis da Hungria mantiveram domínio sobre a região por vários séculos e os dois países voltaram a se juntar após a Primeira Guerra Mundial. Em 1991 os dois povos decidiram separar-se, sem traumas e sem disputas. Vai ser a primeira copa sem a companhia do país vizinho e o time é inexperiente. Não tem tantos jogadores de destaque, mas fez uma campanha irrepreensível nas eliminatórias européias. Pode se beneficiar da pouca atenção que tem sido a eles dispensada. O futebol é de velocidade e força.

NOVA ZELÂNDIA

A Nova Zelândia é um dos mais desconhecidos países que vão à Copa. Fica no Oceano Pacífico, na Oceania, mas bem longe da Austrália. Também faz parte do Império Britânico. É uma região bonita, com visual deslumbrante, fauna riquíssima e com algumas das maiores e melhores condições de vida do planeta. A região da Tazmânia é ali, e é uma dos mais procuradas pelos turistas. O local era habitado pela tribo Maori, que chegou ali vinda da Polinésia. É formada por duas grandes ilhas, a Sul e a Norte. Em 1642 o holandês Abel Tasman chegou à ilha sul da Nova Zelândia, mas foi impedido de desembarcar pelos maoris. Mesmo assim o cara ‘batizou’ a terra de ‘New Zeeland’, em reconhecimento a ‘Zeland’, uma das províncias dos países baixos. ‘Zeeland’ é composta pelos vocábulos ‘Zee’ (mar) e ‘Land’ (terra). Tempos depois os ingleses aportaram na ilha norte e anexaram o território à Coroa britânica. Para isso fizeram um tratado com os nativos, comprometendo-se a respeitar e preservar a terra e a cultura aborígene. Claro que isso ficou só no papel, mas ali não houve o massacre ocorrido na vizinha Austrália, e os Maoris tiveram vida mais tranqüila. O time da Nova Zelândia segue a cartilha do antigo futebol inglês. Correria e bolas altas na área adversária. Na primeira e única vez em que disputaram a copa caíram logo no grupo do Brasil, em 1982, na Espanha. Perderam só de 4 a 0, e terminaram em penúltimo lugar a competição. O futebol local é ainda amador, e somente alguns poucos atletas da seleção possuem experiência internacional, já que atuam fora do país.

GRUPO G

Este é o grupo do Brasil-il-il. Não é o grupo da morte, como querem alguns, mas pode reservar boa disputa pelas duas colocações à próxima fase. O Brasil é o eterno favorito. Portugal chega com muita esperança, mas o time não anda lá essas coisas. Costa do Marfim é uma das esperanças africanas na copa. A Coréia do Norte, bem, essa aí ninguém sabe e ninguém vê.

BRASIL

Quando os portugueses aportaram por aqui no século 16, as terras brasileiras já eram habitadas por tribos nativas que migraram do norte do continente. Também o solo já fora pisado por espanhóis e franceses. Mas isso pouco importa. Fomos ‘descobertos’ e colonizados pelos portugueses, que encontraram aqui enorme fonte de riqueza e matérias primas para a metrópole. Dessas a principal era a madeira de cor vermelha como o fogo, que lembrava brasas, sendo por isso chamada de ‘braso’, em latim ‘brasile’ ou ‘brasilium’. A árvore que tinha essa madeira era chamada de “pau-brasil”. Daí o país passou a ser conhecido como Brasil. O país cresceu e desenvolveu a partir da vinda da corte portuguesa, no século 19. O grande contingente de escravos e a afluência cada vez maior de europeus deu início a um amplo processo de miscigenação. O Brasil tornou-se independente, mas absorveu todas as características dos colonizadores, que iam desde a religiosidade extrema até o apreço pela malandragem e pela esperteza. Dos escravos e indígenas herdamos a cultura, a religião, os costumes e vários aspectos genéticos. O futebol brasileiro sempre foi uma síntese do país. A habilidade e a irreverência dos praticantes contrastava com a falta de ordem e de princípios dos que comandavam o esporte. Como caiu rapidamente no gosto popular, passou a ser praticado em qualquer terreno, em todas as localidades. Desenvolveu-se uma forma de jogar repleta de gingas e dribles, muitas vezes oriundos da luta diária das pessoas para lidar com os vários percalços da vida cotidiana. Quando superaram os mais diversos obstáculos, os brasileiros começaram a se destacar no cenário internacional. Se perdiam para argentinos e uruguaios no quesito disposição e organização, equivaliam na qualidade e na categoria. Participou de todas as copas e hoje é a maior potência do esporte no mundo. Venceu cinco vezes a competição e foi vice em outras duas ocasiões. Perdeu uma decisão em casa, em 1950, que gerou um trauma imenso, somente superado quando alcançou a primeira conquista em 1958. Teve alguns dos melhores jogadores de todos os tempos, e é sempre o time a ser batido. Chega à África do Sul repleto de críticas de seus compatriotas, que gostariam de ver uma equipe mais brilhante e de acordo com suas tradições. Mesmo assim, é o maior favorito à conquista do título.

PORTUGAL

Portugal foi habitado desde a antiguidade pelos ‘lusitanos’, uma das tribos iberas que surgiram às margens do rio Tejo. Segundo a tradição, o nome ‘Lusitânia’, que significa ‘terra de Luso’, foi dado em homenagem ao personagem da mitologia greco-romana Luso, companheiro de Baco. O território foi conquistado sucessivamente por vários povos até ser dominado pelos romanos, que o incorporou a seu império. Depois da queda do Império Romano, Portugal foi invadido por várias tribos bárbaras que saquearam e fragmentaram seu território. Mas uma delas, a dos visigodos, se instalou ali e difundiram sua cultura e sua religião cristã. No século 8 os árabes chegaram a Portugal e estenderam seu domínio político e cultural sobre o país. No século 12 os portugueses conseguiram expulsar os árabes, sob a liderança de Afonso Henriques, que fundou o reino independente de Portugal. Iniciou-se um período de grande desenvolvimento econômico que culminou com a expansão marítima e a conseqüente conquista de territórios na Ásia, na África e na América. A palavra Portugal vem de Cale, que significa ‘abrigo’, e era um povoado antigo, hoje chamado Gaia. Próximo a Cale havia um porto e o local passou a ser chamado de ‘Portocale’. A povoação cresceu tanto que o nome passou a denominar todo o país. Depois desse próspero período o país entrou em declínio. Foi dominado pela Espanha e depois invadido por Napoleão. Sua corte migrou para o Brasil e o resto já se sabe. O futebol português nunca fez parte do primeiro mundo da bola. Fizeram uma campanha surpreendente na copa de 1966, quando o Benfica era a base da seleção e uma das principais equipes da Europa. Nesta primeira participação no torneio, Portugal apresentou um futebol vistoso e ofensivo, comandado fora de campo pelo brasileiro Oto Glória e dentro de campo pelo moçambicano Eusébio, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. Ficaram em terceiro lugar e só retornaram à competição na Copa de 86, no México. Nunca mais montou uma seleção tão boa quanto aquela, a não ser em 2006, quando chegaram à quarta colocação na Alemanha e tinham outro brasileiro no comando, Luís Felipe Scolari. Logicamente contava com um grupo de excelentes jogadores, como Figo e Rui Costa, mas esbarraram na falta de autoconfiança e determinação. Chegam agora com mais experiência e expectativa, pois tem um dos melhores jogadores da atualidade, Cristiano Ronaldo, embora o time ainda não tenha se acertado. O caráter vacilante e pouco ambicioso dos cidadãos portugueses também norteia o comportamento da equipe e poucos acreditam que cheguem tão longe.

COSTA DO MARFIM - Côte d' Ivoire

O país localizado na costa da Guiné foi fundado pelos bauleses, tribo achanti que migrou para esta região no século 18. Desde o século 15 que os Europeus chamavam este território como Costa do Marfim, ou ‘Côte d’ Ivoire’, nome dado pelos navegantes franceses pelo ativo comércio de presas de elefante que se fazia na época. Antes disso os portugueses usavam o território para a exploração de marfim e escravos. Várias tribos habitavam a região, mas a dos baules se sobressaiu. Na partilha da África feita pelas potências européias, a França ficou com o controle do país, não sem antes abaterem à força a resistência nativa. Na década de 50, já no século 20, vários movimentos de independência surgiram, até que houve a plena e total conquista da soberania em 1960. Como todos os países da África negra, passou por vários momentos de instabilidade política e social, convivendo com golpes militares e crises econômicas. Mas é uma nação importante do continente. No futebol experimentou largo crescimento nos últimos anos e tem vários jogadores atuando na Europa. Dentre eles o maior ídolo, Didier Drogba, do Chelsea, que recentemente sofreu uma fratura no cotovelo e seu aproveitamento na copa ainda é dúvida.
Na copa de 2006 não foi tão bem e chega agora com mais cartaz e expectativa. O futebol praticado é semelhante aos vizinhos africanos, de força, velocidade e habilidade. O treinador Sven-Goran Eriksson é experiente e bem malandro. Vamos ver o que ele apronta para cima dos favoritos Brasil e Portugal. A curiosidade é que o governo marfinense solicitou a toda a comunidade internacional que chamasse o país pelo nome francês. Tá bom.

CORÉIA DO NORTE

O país mais misterioso e fechado do planeta tem uma história rica quando era apenas um. Vide a história da Coréia do Sul. Depois da guerra que separou a península em duas, da Coréia do Norte sabemos apenas que tem um dos maiores e bem equipados exércitos do mundo, e que o presidente é completamente doidão. No futebol são igualmente desconhecidos e misteriosos. Disputaram a copa de 1966 e fizeram ótima campanha, ficando em oitavo lugar, com direito a uma espetacular vitória sobre a Itália por 1 a 0. Já nesta competição, são candidatíssimos a ficarem com a última colocação geral.

GRUPO H

Chile, Espanha, Honduras, Suíça

Esse grupo é interessantíssimo. Tem a Espanha, grande sensação do momento e apontada como uma das favoritas ao título. O Chile, dirigido pelo argentino Bielsa e que joga um futebol atrevido e sem medo. A Suíça tem experimentado um crescimento, sobretudo graças a uma geração de jovens atletas que mostraram talento e habilidade, algo raro por lá. E Honduras é uma daquelas seleções centro-americanas que compensam a falta de experiência e a fragilidade com muita luta e empenho.

ESPANHA - España - Spain

Uma das regiões mais antigas do mundo, com registros de ocupação humana que remontam há 15 mil anos, a Espanha sempre foi terra de passagem para os povos mediterrâneos. Os primeiros a se instalarem na península foram os fenícios, que fundaram a cidade de Cadiz em 1100 a.C. Seguiram-se aos fenícios os gregos e cartagineses, estes rivais ferrenhos dos romanos. A tribo dos iberos também habitou partes do território espanhol, com uma sociedade avançada, além dos Celtas, sempre presentes. Os romanos desembarcaram na Espanha no século 2 a.C. e enfrentaram os povos que ocupavam a região, até conseguirem o controle total do território da península. Nesta época chegaram também várias tribos nômades, principalmente a dos visigodos, com sua cultura e organização, que se estabeleceram como ‘hóspedes’ dos romanos, e posteriormente, com a decadência e ruína deste império, dominando e estabelecendo um novo Estado. No século 8 d.C. os mouros (árabes) invadiram e dominaram inteiramente o país dando início a uma ocupação muçulmana que durou oito séculos. Os descendentes dos visigodos se dividiram em vários reinos, que se juntaram posteriormente para expulsar os árabes. Com a união desses reinos conseguiram o afastamento dos invasores e consolidaram sua unidade. Seguiu-se uma grande fase de desenvolvimento e prosperidade que desembocou nas grandes navegações e no domínio de boa parte do novo mundo. A origem do nome ‘Espanha’ é atribuída aos fenícios. Seria uma derivação de ‘I-saphan-im’, isto é, ‘Costa dos Coelhos’, não pela abundância desse animal na península, mas por ser aquele território o mais longínquo e remoto que eles conheciam. Os coelhos são conhecidos pela facilidade em esconder-se e sumirem da vista dos caçadores. De ‘I-saphan-im’, derivou o termo ‘Hispânia’, mais tarde transformado em ‘España’. Por toda a história de lutas, invasões, florescimento, conquistas, enriquecimento e decadência, a Espanha carrega a fúria genética e uma capacidade inacreditável de sucumbir diante da pressão e da força. O país custou a se recuperar política e economicamente depois de décadas convivendo com problemas internos, inclusive uma ditadura que atravessou meio século 20. O futebol espanhol traz marcas bem significativas das divergências internas e rivalidades entre as regiões. Demoraram a montar um selecionado que simbolizasse a união e a força da nação. Hoje um país moderno, rico, autoconfiante, mostra um time finalmente capaz de levar adiante a alcunha de ‘La Furia’. Tem atletas talentosos, inteligentes, experientes e apresenta uma autoconfiança e uma segurança que não se encontravam nas copas passadas. Chega com grande expectativa de desbancar o favoritismo de sempre das potências futebolísticas e gravar seu nome no rol dos grandes times da história das copas. Desde que não esbarrem em sua própria insegurança. Hoje é a seleção mais visada e mais estudada, mais um time a ser batido nesta edição da Copa do Mundo.

CHILE

País localizado na Cordilheira dos Andes, o Chile foi habitado desde os tempos pré-históricos por tribos aborígenes vindas do oriente. Durante séculos esses povos sofreram invasões de outras tribos, notadamente dos araucanos, até serem dominados pelos incas, que estabeleceram ali uma das bases do seu império. Os araucanos eram valentes e destemidos e resistiram aos incas, ao mesmo tempo em que implementaram a agricultura nas férteis terras dali. Com a chegada dos espanhóis e o com o império inca dizimado pela fúria espanhola, os araucanos se tornaram adversários ferozes e indomáveis, provocando um acordo de paz entre indígenas e espanhóis após várias batalhas e baixas de ambos os lados. O nome Chile tem várias versões e teses sobre seu surgimento, mas todas asseguram sua origem como um vocábulo aborígene, que significaria ‘limite do mundo’, ou o nome de um pássaro da região, ou mesmo uma das tribos antepassadas. Dos nativos os chilenos mantiveram a aplicação, a tenacidade e um imenso orgulho das tradições. O povo chileno é acostumado a driblar as dificuldades e a empreender uma incrível garra no que fazem. O país é dos mais prósperos da América do Sul. O futebol é muito parecido com o argentino, mas não há tantos jogadores habilidosos quanto no vizinho. Mesmo assim sempre formaram seleções fortes e que deram trabalho às potências continentais. O Chile chega à Copa da África com uma equipe aguerrida e atrevida, características do povo chileno e também do seu treinador, o argentino Marcelo Bielsa, chamado de ‘O Louco’. Comeram pelas beiradas nas eliminatórias e ficaram atrás apenas do Brasil. Quem apostar no Chile como surpresa e sensação do torneio pode não se arrepender.

SUÍÇA - Switzerland-Schweiz

A Suíça é sempre lembrada pelos Alpes, bancos, relógios, chocolate e pela neutralidade política. Um país estratégico da Europa, de alto padrão e qualidade de vida proporcionada aos seus habitantes. Os primeiros a ocuparem o território foram os helvéticos, tribo celta que figurava entre as mais importantes e desenvolvidas. A localização estratégica despertou a cobiça dos romanos, que invadiram e conquistaram os vales alpinos em 58 a.C. Com o enfraquecimento das fronteiras do Império Romano, já no século 2 d.C., várias tribos bárbaras invadiram e ocuparam o território, entre elas germanos, burgúndios e francos. As terras passaram a fazer parte do Sacro Império de Carlos Magno em 1033. Alguns estados, chamados cantões, no entanto, permaneceram isolados e resistentes ao poder imperial. A união dos cantões de Uri, Schwyz e Underwald, aos quais se juntou a cidade de Zurick, foi o embrião da Confederação Suíça, que finalmente foi formada após vencerem as tropas germanas imperiais, em 1315. Ao longo dos séculos seguintes mais cantões e cidades se juntaram à Confederação, que desapareceu em 1798, após a proclamação da República Helvética, em referência à tribo celta que se estabeleceu por ali por volta de 200 a.C. O nome Suíça tem duas explicações, não se sabe exatamente qual a verdadeira. A primeira tese é a de que deriva do cantão de Schwiz. ‘Suíça’, ou ‘Switzerland’, quer dizer ‘terra de switzer’, como eram conhecidos os habitantes de Schwiz. Alguns historiadores, no entanto, afirmam que o nome ‘Schweiz’, que é o nome do país em alemão, deriva de ‘Schwab’, uma região que hoje pertence à Alemanha, mas cuja língua era falada entre a população de ascendência germânica da Suíça. A história da formação do estado suíço, repleto de presenças de tribos distintas, faz com que o país ainda hoje tenha quatro idiomas oficiais. Além do idioma local, o romanche, fala-se o alemão, o francês e o italiano. Esse caráter plural e a neutralidade estabelecida ainda no século 19 fazem da Suíça um refúgio político e econômico. O país e riquíssimo e sede de várias organizações internacionais, inclusive a FIFA. Para lá acorrem pessoas de todo o mundo. O futebol suíço foi durante anos refratário às influências externas, embora siga o modelo alemão, de muita força e aplicação. Na década de 50 inaugurou um sistema de marcação implacável, de fechamento dos espaços e bloqueio das ações ofensivas adversárias que foi chamado de “ferrolho”. Disputou oito copas, normalmente passa da primeira fase, mas esbarra nas próprias limitações técnicas e vai pra casa em seguida. Desta vez, no entanto, o time chega mais jovem e com alguns atletas que se destacaram nas competições de base. Tem uma defesa forte e um ataque rápido, mas o principal atacante, Alexandre Frei, está lesionado e pode desfalcar a equipe. Entretanto, é bom abrir o olho com os suíços, pois podem surpreender.

HONDURAS

Quando falamos em Honduras, a memória recente lembra de um presidente deposto e encastelado na embaixada brasileira na capital do país. Um imbróglio diplomático completamente sem noção. Mas pouca gente sabe que este país da América Central foi o berço de uma das mais avançadas e incríveis civilizações pré-colombianas, a dos Maias. Dali os indígenas constituíram um imenso império que desapareceu misteriosamente antes mesmo dos espanhóis chegarem a reboque das caravelas de Colombo. Com a descoberta de minas de prata o território foi amplamente explorado e suas riquezas mandadas para a Europa. Mas o maior trunfo era sua localização. A posição geográfica de Honduras tinha caráter estratégico para o domínio do Caribe, razão pela qual o país passou a ser disputado por Espanha e Inglaterra, que chegou a se apoderar de uma parte do território hondurenho. O mais legal é a origem do nome Honduras. A versão aceita é a de que Cristóvão Colombo, depois de resistir a várias tormentas e às profundezas do mar perto da costa, exclamou, ao chegar em terra firme: “Graças a Deus saímos dessas funduras”. Em espanhol, ‘funduras’ se fala ‘honduras’, daí passou a ser conhecido aquele pedaço de terra. Conquistou a independência em 1838. A partir daí seguiu o roteiro comum em todos os países da América espanhola, ou seja, infindáveis crises políticas e golpes de estado. O futebol hondurenho é pobre, participou apenas de uma copa, em 1982, na Espanha. Garantiu a vaga em uma disputa incrível com a Costa Rica. Tem poucas ambições no mundial, mas vai ser daqueles adversários chatos, que podem tirar um ponto precioso de quem subestimá-los.